O Cerrado é conhecido como o berço das águas do Brasil, mas suas riquezas vão muito além dos rios e nascentes.
Em meio às árvores retorcidas e ao solo avermelhado, brotam ervas e plantas medicinais que há séculos são utilizadas por comunidades tradicionais, quilombolas e povos indígenas para curar, aliviar e fortalecer corpo e alma.
Esses saberes, transmitidos de geração em geração, fazem parte da identidade cultural e natural do Centro-Oeste, e hoje voltam a ganhar destaque com o crescimento do interesse por práticas sustentáveis e medicinas naturais.
O Cerrado: farmácia viva do Brasil Central
Com mais de 12 mil espécies de plantas catalogadas, o Cerrado é o segundo maior bioma do país e uma das áreas com maior biodiversidade do planeta.
Entre elas, estão inúmeras ervas com potencial fitoterápico, usadas na forma de chás, óleos e pomadas — muitas vezes de forma simples, mas eficaz.
Pesquisadores apontam que cerca de 30% das plantas medicinais brasileiras têm origem no Cerrado, o que o torna uma verdadeira farmácia viva.
Principais ervas do Cerrado e seus usos tradicionais
🌿 Barbatimão (Stryphnodendron adstringens)
Conhecido como o “antisséptico natural do Cerrado”, o barbatimão tem propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias. Suas cascas são usadas em banhos e compressas para tratar feridas e inflamações.
💡 Curiosidade: seu nome vem do tupi e significa “árvore que aperta”, em referência à sua ação adstringente.
🌻 Arnica-do-Campo (Lychnophora ericoides)
Usada há séculos pelos sertanejos, a arnica é famosa por aliviar dores musculares, hematomas e reumatismos.
Com aroma forte e folhas aveludadas, é uma das ervas mais procuradas em feiras de produtos naturais no Centro-Oeste.
🌰 Pequi (Caryocar brasiliense)
Mais do que um símbolo gastronômico, o pequi é também um aliado da saúde. O óleo extraído de sua polpa é rico em vitamina A e antioxidantes, sendo usado para fortalecer o sistema imunológico e tratar inflamações respiratórias.
💡 Dica cultural: em algumas comunidades, o pequi é considerado uma planta sagrada, símbolo de resistência e fartura.
🌾 Sucupira (Pterodon emarginatus)
Muito utilizada em forma de chá ou óleo, a sucupira é conhecida por suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas.
Ela é indicada popularmente no tratamento de dores nas articulações e artrites, sendo uma das ervas mais valiosas do Cerrado.
🌸 Cipó-mil-homens (Aristolochia cymbifera)
Usado com cautela devido à sua potência, o cipó-mil-homens é conhecido por suas ações antiparasitárias e digestivas.
Tradicionalmente, é preparado por raizeiros experientes, que conhecem a dosagem e o preparo corretos.
🌱 Saberes que resistem: o valor cultural das ervas do Cerrado
O uso das ervas não é apenas uma prática medicinal, mas também um modo de vida.
Nas comunidades rurais e tradicionais do Centro-Oeste, o conhecimento sobre plantas é passado por meio da oralidade — das mãos das parteiras, raizeiros e benzedeiras, que unem fé, natureza e ciência popular.
Esses saberes resistem mesmo diante da modernidade e da perda de habitats, preservando um patrimônio imaterial essencial para a identidade cultural do Cerrado.
🔬 Ciência e tradição: o encontro entre dois mundos
Nos últimos anos, universidades como a UnB, a UFG e a UFMT têm realizado estudos sobre o potencial farmacológico das plantas do Cerrado.
O objetivo é unir o conhecimento científico ao saber tradicional, garantindo que o uso das ervas seja seguro, sustentável e valorizado.
Além disso, cresce o movimento por hortas comunitárias e jardins medicinais, que resgatam o uso consciente das plantas e fortalecem a relação entre comunidade e meio ambiente.
🌎 Preservar é curar: o Cerrado pede cuidado
O avanço do desmatamento e das queimadas ameaça não só a biodiversidade do Cerrado, mas também os saberes que dele dependem.
Cada planta perdida representa um remédio natural que pode nunca mais ser descoberto.
Preservar o Cerrado é, portanto, proteger um legado natural e cultural, capaz de inspirar novas formas de saúde, equilíbrio e conexão com a terra.
As ervas do Cerrado são muito mais do que simples plantas — são símbolos de sabedoria, cura e resistência.
Em um mundo cada vez mais urbano e acelerado, conhecer e valorizar esses saberes é uma forma de voltar às origens, escutar a voz da natureza e compreender que a verdadeira medicina começa no solo que nos sustenta.
Alô Centro Oeste