Quem viaja pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal se depara com uma herança gastronômica única, marcada pela força do Cerrado, pela criatividade de seus povos e pela mistura de tradições indígenas, africanas e sertanejas. A culinária do Centro-Oeste é, acima de tudo, uma celebração do sabor regional — e ainda pouco explorada fora de seus territórios.
Com ingredientes autênticos, como pequi, guariroba, milho, carne de sol, peixe de água doce e raízes nativas, os pratos do Centro-Oeste oferecem experiências sensoriais que fogem do lugar-comum e surpreendem até os paladares mais exigentes.
Pequi: o rei da mesa goiana
Não se fala em culinária centro-oestina sem citar o pequi, fruto do Cerrado que divide opiniões por seu sabor intenso e aroma inconfundível. Em Goiás, ele é protagonista de pratos como o arroz com pequi, que pode vir acompanhado de frango caipira, guariroba (uma palmeira de sabor amargo), e muito cheiro-verde.
A dica para os iniciantes é comer com cuidado: o caroço do pequi tem espinhos microscópicos que podem ferir a boca se mordidos. A forma correta de apreciar é roendo a polpa com delicadeza.
Pamonha, curau e milho em festa
O milho é outro ingrediente base da culinária regional, presente em preparos doces e salgados. As pamonhas goianas são fartas e variadas — podem ser simples, recheadas com queijo, linguiça ou carne seca. Já o curau e o bolo de milho verde são as estrelas das festas juninas, mas podem ser encontrados o ano todo em mercados e feiras locais.
Pantanal e peixe fresco
Nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a gastronomia é profundamente influenciada pelas águas do Pantanal. Peixes como pintado, pacu e dourado são preparados assados, grelhados, empanados ou no famoso caldo de piranha, conhecido por suas supostas propriedades afrodisíacas e energéticas.
Destaque também para a moqueca pantaneira, uma adaptação regional que combina peixes de rio com temperos locais, muitas vezes acompanhada por banana-da-terra frita.
Arroz carreteiro e carne de sol: herança dos tropeiros
Receitas práticas, feitas com poucos ingredientes e muito sabor marcam a influência dos tropeiros na cozinha centro-oestina. O arroz carreteiro, feito com carne de sol, arroz e temperos, é tradicional em Mato Grosso do Sul e frequentemente servido em festas e almoços familiares. Completa-se a refeição com mandioca cozida, farofa e vinagrete.
Doces do cerrado: sabor e memória
As sobremesas também revelam a identidade regional. Goiabada cascão, doce de leite pastoso, ambrosia e doces de frutas nativas como mangaba, araticum e cagaita são comuns em feiras e cozinhas do interior. Em muitas cidades, ainda é possível encontrar o tradicional alfenim — doce artesanal feito de açúcar puxado, cada vez mais raro.
Culinária que conta histórias
A cozinha do Centro-Oeste é mais do que saborosa — ela conta histórias. Fala sobre os povos indígenas, os quilombolas, os fazendeiros, os pescadores e os migrantes que moldaram a região. Cada receita carrega traços de resistência, de simplicidade e de uma forte conexão com a terra.
Para quem ama turismo gastronômico, a dica é clara: explore os mercados municipais, almoce em casas de roça e experimente sem medo os ingredientes do Cerrado. O Centro-Oeste guarda tesouros culinários que merecem ser conhecidos e celebrados.
Alô Centro Oeste