Brasília é reconhecida mundialmente por sua arquitetura moderna e linhas futuristas, mas poucos conhecem o artista responsável por dar vida, movimento e poesia aos monumentos da capital federal: Athos Bulcão. Mais do que um nome nas placas de ruas ou instituições culturais, Bulcão é parte indissociável da paisagem e da identidade visual da cidade.
Nascido no Rio de Janeiro em 1918, Athos iniciou sua trajetória acadêmica na medicina, mas não demorou a ouvir o chamado das artes. Abandonou a carreira médica e mergulhou no universo artístico, chegando a trabalhar com Cândido Portinari no mural da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Em Paris, entre os anos 1940 e 1949, aprofundou seus conhecimentos em desenho e litografia. Foi o início de uma trajetória marcada pela inovação e pelo talento.
Seu destino se cruzou com o de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa quando foi convidado a participar da construção de Brasília. A partir de 1958, Athos Bulcão se estabeleceu na nova capital e transformou o concreto modernista em telas urbanas. Suas criações com azulejos — geométricas, lúdicas e interativas — passaram a compor os mais emblemáticos edifícios da cidade.
É impossível andar por Brasília sem se deparar com sua arte: os painéis da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, os traços azuis e brancos do Aeroporto Juscelino Kubitschek, os desenhos do Congresso Nacional, da Catedral Metropolitana e de tantas outras construções públicas são marcas registradas de seu estilo. Cada padrão criado por Bulcão tem ritmo, movimento e identidade própria, dialogando com a arquitetura de Niemeyer de forma harmoniosa e complementar.
Ao contrário da arte feita para ser contemplada à distância, a obra de Athos convida à aproximação, à convivência e à descoberta. Suas composições se repetem e se reinventam conforme o olhar e o ângulo de quem passa, tornando-se parte do cotidiano dos brasilienses.
Em 1992, foi criada a Fundação Athos Bulcão, na W3 Sul, em Brasília, com o objetivo de preservar e divulgar a obra do artista. Mais que um museu, a fundação é um espaço de educação, arte e memória, com exposições, oficinas e projetos culturais que mantêm viva a contribuição de Bulcão para o Brasil.
Athos faleceu em 2008, aos 90 anos, mas sua presença permanece viva nas cores e formas que moldam o cenário urbano da capital. Seu legado é, ao mesmo tempo, discreto e grandioso — como uma poesia visual que se espalha pelas paredes de uma cidade que também nasceu para ser arte.
Brasília é mais que concreto e céu aberto: é também o traço irreverente, inteligente e encantador de Athos Bulcão. Um artista que, com sensibilidade e visão, ajudou a construir não apenas uma capital, mas uma identidade cultural única.
Alô Centro Oeste