A escultura Dois Guerreiros (ou Dois Candangos), assinada pelo artista Bruno Giorgi, é uma das mais emblemáticas e poderosas representações artísticas de Brasília, a capital do Brasil. Criada em 1958, ela reflete a força simbólica da cidade em seu processo de construção e sua identidade, fortemente associada aos trabalhadores que participaram da edificação da nova capital.
O Contexto de Criação
Brasília foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e pelo urbanista Lúcio Costa e inaugurada em 1960, como parte de um grande plano do governo brasileiro para promover a integração do país e o desenvolvimento do interior. A construção da cidade foi um empreendimento gigantesco, que exigiu o trabalho de milhares de operários conhecidos como candangos – um termo que se refere aos trabalhadores nordestinos que migraram para a construção de Brasília.
Nesse cenário de efervescência e desafios, a escultura Dois Guerreiros emerge como um tributo a esses trabalhadores. Ao representar dois homens de aparência robusta e forte, com traços que evocam a figura do candango, a obra de Bruno Giorgi simboliza a dedicação e o esforço árduo que foram necessários para tornar Brasília uma realidade.
A Escultura e Sua Simbologia
A escultura Dois Guerreiros é uma obra em bronze, localizada na Praça dos Três Poderes, uma das áreas mais emblemáticas da cidade. Ela retrata dois corpos humanos, em uma postura que sugere força e resistência, com músculos definidos e uma postura firme, simbolizando o trabalho intenso dos operários da construção.
O nome da escultura, Dois Guerreiros, reflete essa ideia de luta e perseverança. No entanto, muitos também chamam a obra de Dois Candangos, fazendo referência direta aos trabalhadores nordestinos que deram sua contribuição vital para a construção da cidade. Esse nome é uma maneira de perpetuar a memória e a importância desses homens, cujas histórias muitas vezes ficaram à margem da narrativa oficial sobre a criação de Brasília.
Além da referência ao trabalho e à luta, a escultura transmite também um sentimento de monumentalidade, que é característico das obras de Brasília. A figura humana aqui não é representada de forma detalhada ou realista, mas sim como um símbolo, com contornos fortes que conferem a sensação de força e resistência. O formato estilizado de Giorgi, que se inspira em figuras simplificadas e quase abstratas, também se alinha com a estética modernista que dominou a arquitetura e as artes visuais da nova capital.
O Legado de Bruno Giorgi
Bruno Giorgi foi um dos mais importantes escultores brasileiros do século XX, com uma carreira marcada pela inovação e pela experimentação de formas e materiais. Nascido no Rio de Janeiro em 1905, Giorgi era um artista envolvido com o movimento modernista e teve uma forte presença na cena artística brasileira, especialmente nas décadas de 1950 e 1960. Sua obra se destaca pela fusão de elementos clássicos e modernos, e ele foi um dos responsáveis por dar forma e expressão ao espírito da nova Brasília, através de suas esculturas.
Além de Dois Guerreiros, Bruno Giorgi também é conhecido por outras obras em Brasília, como a escultura A Justiça, que está na entrada do Supremo Tribunal Federal. Sua contribuição à cidade é indiscutível, e ele foi um dos artistas que mais refletiram a visão modernista e utópica da nova capital.
Importância Cultural e Patrimonial
Hoje, a escultura Dois Guerreiros é um símbolo de Brasília e um marco da arte pública brasileira. Sua presença na Praça dos Três Poderes, em frente aos edifícios que abrigam os principais poderes da República, reforça a ideia de que os operários e trabalhadores da construção da cidade são parte fundamental de sua história e identidade.
A obra é uma forma de lembrar o esforço coletivo que foi necessário para erguer Brasília, e também um lembrete de que o trabalho humano, muitas vezes invisível ou minimizado, é o que sustenta as grandes transformações na sociedade. Ao longo dos anos, Dois Guerreiros tem sido uma referência para artistas, turistas e cidadãos que visitam a cidade, representando o espírito de resistência e união que caracterizou a construção da capital do Brasil.
Em 1987, a escultura foi tombada como patrimônio cultural, reforçando ainda mais sua relevância para a história e cultura de Brasília e do Brasil. Sua monumentalidade e simbolismo continuam a fascinar, sendo uma das mais importantes obras de arte pública do país.
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