Imagine um lugar ideal para se fazer trilhas, ciclismo, aulas de campo, pesquisas científicas, meditação, fotografias e filmagens incríveis, conhecer e contemplar paisagens naturais únicas e a vida silvestre, além de poder voar de parapente, asa-delta ou speedfly. Pois bem, tudo isso pode ser realizado no Morro do Macaco, localizado no município goiano de Iporá (a 226,6 km da capital Goiânia, pela via GO-060). Ocupando uma área de aproximadamente 1.000 hectares e uma altitude que pode chegar a 800 metros acima do nível do mar, este morro é uma Área de Proteção Ambiental (APA) criada por legislação municipal e também reconhecida como patrimônio natural de relevância cultural, paisagística, histórica e turística.
De fácil localização, o acesso ao Morro do Macaco é feito a partir de uma estrada não pavimentada que sai da zona urbana de Iporá e chega até o seu topo. Munido de água, trajes e equipamentos adequados para se aventurar por lá, o percurso de quase 4km da cidade até a entrada do morro pode ser realizado de bicicleta, motocicleta ou automóvel. Como o trajeto no interior do morro é muito íngreme, é recomendável que seja feito com cuidado e atenção para não ocorrer acidentes. Chegando ao topo, existe um ponto de apoio para acomodação de visitantes e contemplação das paisagens ao seu redor. Além disso, devido aos ventos que ali chegam, a área tem um grande potencial para se praticar o voo livre, com a existência de rampas para realizar essa prática. Como possui relevo bastante acidentado e irregular, ventos constantes e chuvas sazonais, que associados à sua formação geológica, favoreceram a existência de ambientes únicos que atraem visitantes, esportistas e cientistas.
Na região existem diversos tipos de vegetação do Cerrado, predominando matas nas partes mais baixas do morro e vegetação mais aberta nas maiores altitudes, ocupada por campos rupestres. Para sobreviver às variações de clima e oferta de água, os ecossistemas locais se transformam totalmente durante as estações seca e chuvosa. Os estudos científicos já realizados identificaram uma rica biodiversidade animal e florística: 103 espécies de aves (duas espécies endêmicas do Cerrado e três ameaçadas de extinção); 23 espécies de mamíferos terrestres (cinco ameaçadas de extinção); e mais de 150 espécies de plantas (muitas endêmicas do Cerrado e também ameaçadas de extinção). Um estudo internacional publicado em 2021 (Multi-decadal land use impacts across the vast range of an iconic threatened species, na revista Diversity and Distributions) reconheceu essa APA como um espaço muito importante, pois abriga a arara-azul-grande, a maior arara do planeta, ameaçada de extinção a nível global. Também abriga uma nova espécie de planta, o musgo Archidium oblongifolium, que nem possui nome popular. Ele é encontrado apenas no meio da vegetação do campo rupestre do morro e em nenhum outro lugar do planeta!
Infelizmente toda essa riqueza e encantamento existente nesse remanescente do Cerrado goiano estão ameaçados pela degradação humana. A cada ano, parte das matas estão sendo derrubadas, parte da vegetação de altitude e formações rochosas milenares estão sendo removidas para se fazer estacionamentos para carros e colocar grama sintética, sem falar no lixo deixado por muitos visitantes, que fazem até fogueira, potencializando as chances de ocorrerem incêndios.
Mas ainda é possível proteger as belezas naturais dessa APA e possibilitar seu uso de forma responsável. Para começar, seus visitantes devem parar de jogar lixo e acender fogueiras. Em relação às demais ameaças, é preciso que o poder público local atue de forma efetiva na gestão e cuidado da APA. Também é necessário que haja mobilização e engajamento da sociedade (entidades de pesquisa científica, educação, cultura, lazer, turismo, esporte e comércio, por exemplo), uma vez que, além da sua importância ambiental indiscutível, é um território com enorme potencial para se realizar todas atividades descritas no início deste texto. Somente através dos esforços e ações coletivas é que se poderá garantir o manejo responsável e a continuação da existência das riquezas do Morro do Macaco.
Alex Batista Moreira Rios possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Goiás, Campus Iporá, tem mestrado em Biodiversidade e Conservação no Instituto Federal Goiano, campus Rio Verde. atua na Educação Básica como professor de Biologia e Ciências e no Ensino Superior coordenando, colaborando e orientando projetos de pesquisa e extensão.
Fonte: Instituto Jurumi