Uma senhora. Uma cidade centenária. 8º município mais populoso do Estado. Trindade, também conhecida como a Capital da Fé de Goiás, tem 101 anos. Histórias não faltam para contar sobre o município, que passou por grandes mudanças e crescimento ao longo dos anos. Por isso, o Mais Goiás reforça o olhar sobre a cidade e te convida a embarcar em uma viagem no tempo para conhecer a origem da cidade da Fé.
Quem vive ou passa pela cidade e a vê desenvolvida, com construções, comércios e turistas não imagina que seu início se deu ainda no meio rural. No início do século XIX, com o declínio do ouro em Goiás, a população local precisou se voltar a outros meios de sobrevivência, dentre os quais se destacaram a agricultura e pecuária.
À época, Trindade pertencia ao Distrito de Santa Cruz e passou a ter certa importância socioeconômica para Goiás. Isso porque a região se tornou ponto de intercâmbio de tropeiros, carreiros e boiadeiros. Entre as diversas pessoas que passaram pela região, a figura de um casal foi determinante para o surgimento e reconhecimento da cidade como capital da fé.
Devoção ao Divino Pai Eterno
A tradição conta que, por volta de 1830, Seu Constantino Xavier e dona Ana Rosa, lavradores mineiros, saíram do Estado de origem rumo ao povoado de Barro Alto. O casal, então, passou a viver em uma região onde havia um córrego de água salobra e barro escuro nas margens.
Foi neste córrego que, cerca de 10 anos depois, que os agricultores mineiros encontraram um pequeno medalhão com a imagem da Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria.
A partir de então, amigos, familiares de amigos e vizinhos passaram a se reunir para rezar o terço em louvor e devoção ao Divino Pai Eterno. Inicialmente, os encontros eram realizados na casa de Constantino e Ana Rosa. No entanto, a fé atraiu um número cada vez maior de pessoas e a residência do casal passou a não suportar tantos devotos.
Assim, por volta de 1948, os mineiros resolveram construir uma pequena capela. O quantitativo de pessoas continuou crescendo espantosamente. A procura à Santíssima Trindade foi tanta que Constantino decidiu retocar a imagem. Conforme conta a tradição, o homem encomendou uma réplica maior da imagem do medalhão encontrado.
O responsável pela obra esculpida em madeira foi o artista renomado José Joaquim Veiga Valle, residente em Pirenópolis. Constantino foi o indicado para buscar a obra e pagar o autor. O que ele não esperava, porém, é que o dinheiro levado não fosse suficiente para pagar pelo serviço. A saída foi deixar o cavalo como complemento do pagamento. Com a obra, o homem saiu de Pirenópolis a pé e caminhou até Barro Alto, onde fora recebido por moradores do local. E assim surgiu também o motivo da peregrinação anual ao Santuário.
Cada vez mais a fé e devoção cresceram e atraíram novas pessoas, pequenos comércios, novos moradores e novos turistas. Assim, ao longo dos anos, o povoado foi se desenvolvendo física e economicamente até se tornar Trindade, a cidade do Divino Pai Eterno, em 1920.
Romaria do Divino Pai Eterno
Em pouco tempo, as histórias de milagres e graças tomaram conta da região e se espalharam Estado a fora. Naquele momento, a população passou a organizar romarias em peso como devoção ao Divino Pai Eterno. De pequenas celebrações, surgiram peregrinações e celebrações maiores e mais organizadas.
Atualmente, a festa é considerada a segunda maior celebração religiosa do Brasil. Em 2019, bateu recorde de público. Foram 3,2 milhões de fiéis ao longo da festividade. A novidade neste ano foi que a contagem dos visitantes passou a ser feita por meio de câmeras instaladas no início da rodovia.
A Festa acontece anualmente no primeiro domingo do mês de julho. Durante os nove dias que a antecedem, são celebradas missas e novenas; encontros de jovens; acolhimento aos carreiros do Divino Pai Eterno (procissão dos carros de boi), foliões, tropeiros, e outros devotos.
Ao todo, são realizadas cerca de 100 missas e mais de 46 novenas, além de procissões, batizados, vigílias, alvoradas e confissões, conforme o portal do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno.
Durante a Festa, milhares de devotos percorrem, a pé, o trajeto entre os municípios de Goiânia e Trindade, chegando até o Santuário Basílica, aproximadamente 18 km, como forma de pagar promessas, pedir graças e agradecer bênçãos alcançadas. Também há registros de peregrinos que partem de outras cidades e estados.
Fé e Devoção
Mesmo com as mudanças físicas e econômicas e a transição do povoado de Barro Alto para a cidade de Trindade, as tradições religiosas regadas a muita fé e devoção não foram modificadas.
O sacerdote da Paróquia do Divino Pai Eterno, João Bosco de Deus, conta que a cidade não perdeu suas origens. Segundo ele, diariamente são relatados casos de milagres e graças. “As pessoas da cidade e até de outras localidades vêm para Trindade e saem completamente tocadas, principalmente depois de passarem pela sala dos milagres”, disse.
Segundo o relato do padre, há histórias de milagres bastante antigos e conhecidos na região. “Um deles se refere a um senhor, que se deparou com uma onça na roça e gritou o nome do Divino Pai Eterno e teve a vida salva”, conta. “Também tem o caso de uma pessoa, há uns vinte, trinta anos, que seria esmagada por um caminhão de lenha. Mas ela invocou o nome do Divino Pai Eterno e alcançou a graça de não ter perdido a vida”.
Um dos milagres que mais o emociona, no entanto, é de uma senhora que havia sido desenganada pela medicina. “Ela tinha câncer no intestino. A doença já havia tomado todo o seu interior. Os médicos diziam não haver mais cura. Mas ela colocou a vida nas mãos do Divino Pai Eterno e foi completamente curada”, relata.
“São relatos de muitos milagres que ocorrem há 180 anos no povoado de Barro Alto e há quase 100 anos em Trindade. A cidade é um misto de fé e devoção por todos os lados. Está sempre presente nas ruas, casas e comunidade. É um município com bastante potencial, próspero e principalmente de pessoas que vivem com a esperança de dias melhores”, disse.
Fonte: Mais Goiás