A Floresta Nacional de Brasília – FNB, também chamada pela população local simplesmente por 'Flona' é uma Unidade de Conservação – UC que cobre uma área de cerca de 9.000 hectares, dividida em áreas menores e separadas, e que contem diversos tipos de paisagens do Cerrado. Além de ser uma área responsável pela proteção de muitas nascentes que abastecem a maior represa de água da região, a Barragem do Rio Descoberto, responsável pelo fornecimento de 70% de toda água do Distrito Federal aproximadamente, a área possibilita atividades de observação da vida silvestre e ciclismo, dentre outras.
Essa Unidade tem áreas de Cerrado, bioma nativo da região, está caracterizada como UC de uso múltiplo sustentável com o foco na conservação da natureza, sendo uma das unidades de conservação do DF. Ela está mais precisamente localizada nas regiões administrativas de Taguatinga e Brazlândia, na composição da área metropolitana de Brasília no Distrito Federal. As suas áreas estão inseridas na Área de Proteção Ambiental – APA da Bacia do Rio Descoberto, além de também estarem próximas de APA’s como a do Planalto Central e da Cafuringa. Ela também está ligada diretamente ao Parque Nacional de Brasília – Parna de Brasília, que tem por objetivo a conservação de ecossistemas naturais e da biodiversidade do bioma. A comunidade, inclusive a científica, vem defendendo cada vez mais a necessidade de UC’s ao longo de territórios nacionais para a conservação de biomas e de suas funções ecológicas.
A Floresta Nacional de Brasília possui uma rica diversidade de ambientes, como matas de galeria, vereda, campo sujo, campo limpo, campo de murundus e Cerrado stricto sensu. O clima, o solo e vegetação dessa área são típicos do Cerrado. Também concentra áreas de plantas exóticas, algumas com maior predominância, outras com mistura entre plantas nativas do Cerrado e plantas exóticas.
Ainda sobre o clima é importante mencionar que o Cerrado tem duas estações bem definidas ao longo do ano: a estação seca que tem inicio a partir de março e a estação chuvosa com início a partir de setembro, com pequenas variações ao longo de cada estação, contudo marcadas pelo ciclo das chuvas.
Histórico
O período colonial foi caracterizado pela exploração mineral seguida de pecuária que alimentou a economia da região até o fim do século XIX. Pequenas vilas eram passagem dos comerciantes, mineradores e demais migrantes que vinham e partiam na busca de serviços ou terras para explorar.
A região hoje do Distrito Federal era apenas uma área de passagem até o século XVII, sua ocupação foi iniciada com as primeiras expedições de bandeirantes pelos caminhos indígenas. Durante o século XVII ao XVIII, foram os bandeirantes que desbravaram o que antes apenas os povos indígenas conheciam.
Segundo entrevistas com moradores das Áreas da Flona, muitas propriedades foram vendidas, parceladas e invadidas, formando loteamentos agrícolas e ocupações clandestinas gerando um processo de urbanização. Ao final da década de 70 foi criada uma empresa (PROFLORA) pelo Governo responsável pelo reflorestamento das áreas da Floresta, áreas estas em terras públicas que apresentavam baixa ocupação. O objetivo foi introduzir e criar florestas de pinus, eucaliptos, espécies nativas, e controlar as invasões nas áreas de conservação.
Moradores da Área 1 da FNB descrevem a paisagem com características de Cerrado e algumas picadas para transitar a cavalo. Pessoas passeavam, banhavam-se nos riachos, e diversos currais de cavalos foram instalados às margens do córrego que recebe esse nome: Córrego dos Currais. Os moradores lembram também que aos poucos a PROFLORA foi arando para o plantio de eucaliptos e pinus, além de cortes do reflorestamento e utilização das árvores pouco desenvolvidas para a elaboração de carvão. Relatam ainda que na Área 2 havia o viveiro de mudas.
Na Área 2 havia predominância de Cerrado até meados da década de 1960 e pouca ocupação. A empresa ocupou a área e realizou o reflorestamento a partir de 1973, uma área de suma importância, funcionando como uma barreira ao avanço da ocupação no entorno do Parque Nacional de Brasília. Das áreas essa é a mais alterada e com presença antrópica.
A história da Área 3 antes de receber o reflorestamento foi marcada por diversos usos antrópicos, além de ocupações de propriedades agrícolas e urbanas. Desde a urbanização por volta de 1930 se tem notícias da exploração da cascalheira para a manutenção das vias, assim como abertura de áreas para o pastoreio de gado, plantio. Em meses de calor a região recebia a população para lazer em áreas de banho próximas ao rio Descoberto.
Já a Área 4 foi a última a ser reflorestada no início da década de 1980, e permaneceu sem ocupações clandestinas até início dos anos 1990. Antes do reflorestamento a área era composta de Cerrado e pertencia às fazendas coloniais que foram desapropriadas com a construção de Brasília. O bioma foi cortado por correntes e no seu lugar foram colocadas mudas de pinus e eucalipto e esse processo acarretou na diminuição da água em todos os cursos onde houve esse florestamento. Então, em 1999 a Flona de Brasília foi criada com o objetivo de constituir um cinturão verde para assegurar a preservação dos mananciais e do Parna de Brasília, sobre áreas dos plantios de pinus e eucaliptos.
Áreas Úmidas
Nessa UC as áreas úmidas são ecossistemas de ambientes terrestres e aquáticos, continentais, naturais, permanente ou periodicamente inundados, de águas doces, com comunidades de plantas e animais adaptados a sua dinâmica hídrica.
Com foco nisso, as áreas úmidas contemplam exímio papel em suas utilidades nos ecossistemas. Sendo importantes para regulação das chuvas, drenagem de água pelo solo, e maior disponibilização de recursos hídricos para o ecossistema, as áreas úmidas são uma parte central de todo o agregado. Berços de biodiversidade, como elas são, carregam em grande parte funções e habitats únicos que evitam extinções, que por sua vez, evitam o colapso de ecossistemas que funcionam em uma boa ciclagem.
Na Flona de Brasília, uma importante área úmida é a vereda, lar de araras-canindés, palmeiras de buriti e mamíferos, ecossistema de extrema importância ao Cerrado brasileiro e que carrega águas límpidas riachos abaixo. Há também áreas alagáveis, como a extensa área de campo de murundus na região de nascente do Córrego dos Currais, que costuma apresentar 'cheias' em períodos da estão chuvosa do ano. Também áreas que permanecem alagadas ao longo de todo ano, como a região da nascente do Ribeirão das Pedras, o principal curso d'água da UC e outras tantas nascentes que compõem essa micro bacia hidrográfica. Há também muitas matas de galeria que se conectam ao Ribeirão.
Ainda assim, o encontro de áreas úmidas não poluídas vem se fazendo cada vez mais raro nos dias atuais, causando a perda de habitat, e, portanto uma extinção local que possa influenciar em extinções de escalas sub-globais. Deste ponto de visto, não existem benefícios a nenhuma das partes quando há a perda de ecossistemas que antes eram veredas na paisagem afetada em questão. Já os prejuízos são grandes e a recuperação, aparentemente não é total. Nesses princípios o respeito ao meio ambiente, seu uso sustentável e principalmente sua conservação, se fazem mais do que necessário, se fazem quase obrigatório.
Fitofisionomias
Antes de descrever brevemente a paisagem florística da Unidade, relembramos que fitofisionomia pode ser interpretada como a 'cara' ou aparência de um local no Cerrado, com uma composição vegetal típica do bioma. Na FNB podem ser observados ecossistemas como formações florestais, savânicas (Cerrados) e campestres. Dentro das áreas da Flona de Brasília uma das fitofisionomias “intocadas” mais encontrada seria a Mata de Galeria. Essas matas têm a dispersão ao longo de córregos ou riachos, sendo sua principal característica o toque ou união entre as copas das árvores dos lados desse curso d'agua, a formar um 'telhado' sobre esse curso e a própria galeria, formada pelo conjunto de árvores laterais. Essas formações vegetais concentram grande quantidade de espécies da flora, abrigam muitas espécies de animais, desde borboletas até mamíferos de grande porte, umidade e muitas interações.
Há também áreas de Cerrado Típico, com as árvores em menor quantidade, também arbustos, num estrato herbáceo, com parte de vegetação mais densa, por vezes mais rala. Existem ainda as fitofisionomias de formação campestres, como campo sujo e até mesmo algumas áreas de campo limpo, mas o tipo que mais pode ser encontrado seriam os Campos de Murundus. Essa fitofisionomia apresenta pequenas elevações circulares ou micro montes, com têm a característica de serem alagadas no período de chuva. É comum apresentar poucas árvores, arbustos, dentre outras espécies típicas da flora do bioma.
Fonte: Instituto Jurumi