Itamaraty |
A história da construção da Capital do País é tão complexa e envolve tantos esforços e genialidades que quanto mais você conhece, com certeza, mais você irá desejar conhecer.
Em muitos artigos sobre a construção de Brasília, os detalhes dos prédios e monumentos criados contam com uma frequente presença: o paisagismo de Burle Marx, com um toque único, visionário e poético de natureza nas construções.
Mas seu talento não ficou reservado apenas para Brasília, como, por exemplo, o paisagismo do Eixo Monumental, Burle Marx projetou cerca de dois mil jardins, sendo o responsável pelos Jardins do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, e do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Vamos conhecer mais sobre ele?
Infância saudável e cultural
Em 04 de agosto de 1909, nascia em São Paulo, Roberto Burle Marx, filho de Wilhelm Marx, um judeu alemão que comercializava couro, e de Cecília Burle, uma pernambucana descendente de franceses. Sendo o quarto filho de seis irmãos, a descendência dos pais sempre teve uma influência cultural na vida do filho.
Desde a infância, vivida inicialmente em um casarão na Avenida Paulista e, mais tarde, no bairro do Leme, no Rio de Janeiro, Burle Marx já apresentava sua habilidade em manusear e cuidar de jardins, sempre ao lado da mãe. Inclusive, a mãe separou um canteiro especial que só o filho cuidava.
Primeiras inspirações
Com 19 anos, Burle Marx teve um problema de visão e a família voltou para a terra natal do pai em busca de tratamento. Na Alemanha, o paisagista teve um “encontro” que marcou sua vida: conheceu o Jardim Botânico e suas estufas, algumas delas dedicadas a plantas brasileiras que ele nem conhecia.
Spoiler! É desse contato com plantas nativas brasileiras na Alemanha que nasceu seu estilo inconfundível, tornando-o o criador do Jardim Moderno.
Durante sua estadia em Berlim, Burle Marx estudou canto e se envolveu com a cultura da cidade, sempre presente em teatros, óperas, museus e galerias de arte. Teve contato com as obras de artistas visionários e únicos como Vincent Van Gogh (1853-1890), Pablo Picasso (1881-1973) e Paul Klee (1879-1940). Em 1929, frequenta o ateliê de pintura de Degner Klemn.
Burle Marx |
Ambiente fértil
Ao retornar ao Brasil, apesar da proximidade com o paisagismo, Burle Marx opta por cursar Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade de estudar com artistas que se tornariam proeminentes, como Cândido Portinari, além de conhecer arquitetos de futuro renome, como Helio Uchôa, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.
Inclusive, em 1932, Lúcio Costa, que era vizinho de Burle Marx e acompanhava seu cuidado pessoal com o Jardim de sua residência, pediu para que o colega fizesse o jardim de duas casas que Costa estava projetando, muito provavelmente, sendo os primeiros projetos profissionais de Burle Marx. Já seu primeiro projeto público aconteceu em 1934: uma praça, no bairro do Forte, em Recife, no estado natal de sua mãe.
A partir desses contatos e projeto iniciais com grandes nomes da arquitetura que a carreira profissional de Burle Marx deslancha e ele “pincela” seu nome e sua arte em inúmeros monumentos e espaços singulares de nosso país, especialmente, em Brasília.
É Burle Marx quem assina os contornos do jardim do Palácio Jaburu, da Praça dos Cristais, do Eixo Monumental e do Palácio Itamaraty.
Valorizando suas raízes
Com o perdão do trocadilho, essa é uma grande verdade sobre o estilo de trabalho de Burle Marx, a característica que o diferenciava dos outros profissionais.
Ele rompe com os modelos europeus de fazer paisagismo e traz plantas nativas para composição dos jardins, procurando enfatizar e dar o devido valor à rica biodiversidade do Brasil, utilizando plantas da caatinga e das florestas tropicais.
Curiosidade! Em 1949, Roberto Burle Marx compra um sítio em Campo Grande, Rio de Janeiro, com cerca de 800.000 m², para criar uma grande coleção de plantas nativas. Ele e alguns amigos botânicos viajaram para várias regiões do país para coletar e catalogar exemplares de plantas, reproduzindo em sua obra a diversidade fitogeográfica brasileira.
Praça dos Cristais |
Toques de genialidade
Apesar de enfatizarmos tanto sua habilidade e pioneirismo no paisagismo, Burle Marx respirava arte nas mais diferentes formas de expressão, ele era desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de joias, decorador e um excelente chefe de cozinha.
Aparentemente tudo que trazia cor e graça para a vida das pessoas, encantava Burle Marx!
Cronologia de uma vida de sucesso
Através dessa listagem de importantes acontecimentos na vida de Burle Marx, é possível visualizarmos o tamanho e a extensão de sua obra em todo o país.
1909 – nasce Burle Marx em 4 de agosto, em São Paulo.
1913 – Muda-se com a família para o Rio de Janeiro, onde fixam domicílio.
1928 a 1929 – Vive período na Alemanha com a família.
1930 a 1934 – Ingressa e frequenta a Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
1932 – Primeiro projeto de paisagismo para a residência da família Schwartz no Rio de Janeiro.
1934 – Assume a Diretoria de Parques e Jardins do Recife, projeta praças e jardins públicos.
1937 – Cria o primeiro Parque Ecológico do Recife.
1949 – Adquire um sítio de 365.000 m², em Guaratiba, RJ, onde abriga uma grande coleção de plantas.
1950 – Projeta o Parque Generalisimo Francisco
1953 – Projeta os Jardins da Cidade Universitária da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro.
1953 – Projeta o Jardim do Aeroporto da Pampulha,
1954 – Projeta o paisagismo do Balneário Municipal de Águas de Lindóia-SP.
1954 – Realiza o projeto paisagístico para o Parque Ibirapuera, em São Paulo, SP (não executado).
1955 – Projeta o paisagismo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ.
1961 – Projeta o paisagismo para o Eixo Monumental de Brasília.
1961 – Paisagismo do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
1968 – Projeta o paisagismo da Embaixada do Brasil em Washington, D.C. (Estados Unidos).
1970 – Projeta o paisagismo do Palácio Karnak, sede oficial do Governo do Piauí.
1971 – Projeta o paisagismo do aterro da Bahia Sul em Florianópolis.
1971 – Recebe a Comenda da Ordem do Rio Branco do Itamaraty em Brasília.
1982 – Recebe o título Doutor honoris causa da Academia Real de Belas Artes de Haia (Holanda).
1982 – Recebe o título Doutor honoris causa do Royal College of Art em Londres (Inglaterra).
1985 – Doou seu sítio de Guaratiba com seu acervo ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN (na ocasião se chamava Fundação Nacional Pró Memória).
1990 – Projeta o paisagismo do Parque Ipanema, em Ipatinga/MG.
1994 – Morre no Rio de Janeiro, em 5 de junho, tendo projetado mais de 2.000 jardins ao longo de sua vida. O falecimento foi no dia 4 de junho.
Incrível, né?
Fonte: Brasília Hotel