Beco Cultural - Taguatinga - Você conhece?


O conjunto de blocos tem cerca de 200 metros de comprimento, mas é preciso caminhar muito mais para conhecer a fundo o Mercado Sul. O endereço, na QSB 12/13, de Taguatinga Sul, às margens da Sandu, ainda pouco conhecido dos moradores da região, tornou-se referência de ocupação urbana, produção cultural e economia solidária. Os três blocos de prédios de dois andares enfileirados guardam um teatro de bolso, uma oficina de artesanato, uma de reciclagem, um ateliê de reparos e fabricação de instrumentos musicais, um de costura, brechós e até um local de empréstimo de bicicletas, que funciona com doações. Muita gente vive e produz no local, e uns ajudam os outros.

A história dos pavilhões de pequenos prédios remonta aos primórdios de Taguatinga. Na década de 1960, era um pequeno, porém agitado, centro comercial, que perdeu força e movimento diante do crescimento de outras áreas da cidade. Aos poucos, o endereço foi esquecido pela população em geral. Guardava apenas algumas lojas de estofamento e oficinas. À medida que um ou outro estabelecimento fechava, a região caía ainda mais no esquecimento, até chegar um momento em que, apesar de ainda manter algumas lojas abertas e pessoas morando em apartamentos de sobrelojas, a QSB 12/13 ganhou fama de área de tráfico e prostituição. Então, uma dupla de luthiers se mudou para o local.

Pai e filho, os fabricantes de violões João Pedro Adem da Silva, 80 anos, mais conhecido como Mestre Dico, e Alexandre Adem Alves, 50, também formavam uma dupla caipira: Advogado e Engenheiro chegaram a gravar alguns discos de vinil. Eles eram proprietários de um dos pequenos prédios, comprado na época da construção. A mudança ocorreu somente na década de 1990, mas era o começo de uma transformação que mudaria o endereço para sempre. ;Viemos fazer uma visita e vimos que a área estava abandonada. As pessoas tinham medo de passar por aqui. Começamos a movimentar a área, pedíamos policiamento, e começamos a chamar amigos para ocuparem as lojas;, lembra Alexandre.


Mestre Dico morou na sobreloja do ateliê durante muitos anos. Alexandre conhecia o mamulengueiro Chico Simões e o parceiro de trabalho dele, Walter Cedro. No início dos anos 2000, ele os convidou para montar um teatro de bolso na loja ao lado. O Teatro e Centro Cultural Invenção Brasileira, fundado por Chico em 1987, mudou-se para lá e, em pouco tempo, as transformações no endereço, então apelidado de Beco, tomaram forma. Aos poucos, a área foi sendo revitalizada e ganhando os coloridos e os grafites que marcam tanto o ambiente. ;Começamos a fazer festivais, chamar as pessoas;, completa Alexandre. ;Montamos espetáculos e ficou tudo mais movimentado. Nossa primeira festa de comemoração foi em 30 de janeiro de 2002, recorda Walter.

Se você estiver por perto, vale a pena conhecer!


Fonte: Correio Braziliense